Fazer o que é bom e, por necessidade, o que é certo, aspira de modo geral a humanidade. Veja que mesmo os mais iníquos e cínicos sentem-se acusados em sua frágil consciência quando praticam o mal. Apesar disso, a presença do pecado na natureza humana após a “queda”, infelizmente corrompeu e viciou seu livre-arbítrio de tal modo, que a vontade se mantém escrava dos desejos para o mal, sem que ela consiga se libertar desta maldição.
“conhecerão a verdade, e a verdade os libertará… Se, pois, o Filho os libertar, vocês serão verdadeiramente livres” (Jo 8.32, 36).
Mas onde encontramos a fonte que nos diz o que é bom e correto?
Ainda que regenerados, não nos é apropriado buscar esta fonte em nós mesmos, um gravíssimo erro que é cometido pelas pessoas que, sem Cristo, não têm um Rei divino que as governe. Em outras palavras, não podemos cometer o erro geral da sociedade, de determinar aquilo que é bom e certo com base individualista. Não podemos ser nosso próprio parâmetro do que é bom e correto.
E há muitos conceitos racionais na sociedade para fundamentar o que é bom e correto, fundamentados no individualismo, que devemos evitar. Vejamos alguns:
“A justiça existe no interesse da parte mais forte” (Trasímaco): O certo é definido em termos de poder. Quem o tem, detém o certo.
“O homem é a medida de todas as coisas” (Protágoras): O certo é medido pela vontade do indivíduo. O certo é aquilo que é certo para mim.
O “devo” significa aquilo que eu “sinto” (A. J. Ayer): O certo é reduzido àquilo que eu “gosto”. A verdade é reduzida à mera questão do gosto individual.
“Aquilo que me provoca o máximo de prazer e o mínimo de dor é a coisa certar a se fazer” (Epicureus): Define que obrigatoriamente todo prazer é bom e toda dor é má.
“O certo é aquilo que traz o maior bem para o maior número de pessoas” (Utilitarismo): Define o certo como o que é melhor para a maioria.
Para nós cristãos, que não podemos nos levar pelo individualismo da sociedade acima mencionado, qual será, então, nossa fonte verdadeira do bom e correto?
A resposta correta leva em consideração que os valores sobre os quais os princípios morais cristãos são baseados, não são o resultado de mera decisão do crente, segundo seu próprio ponto de vista e interesse particular, antes, são determinados e desvendados por Deus pela revelação ao homem. Em outras palavras, a ética cristã é descoberta pelo crente, não criada por ele. Por consequência, o conceito cristão do certo tem Deus como fonte superior, ou seja, em última análise, está de acordo com a natureza imutavelmente boa de Deus. Assim, se a fonte da bondade e do que é certo é Deus e vem dele, a descoberta do crente destas virtudes é obtida na sua revelação, não a natural, que é deficiente por causa do pecado, mas na especial, a Escritura Sagrada.
Sobre ela, diz Calvino:
“O espírito que a Escritura nos mostra não favorece as diferentes formas de homicídio e de luxúria, a bebedice, o orgulho, a avareza e a fraude; mas é inspirador do verdadeiro amor, da castidade, da sobriedade, da modéstia, da paz, da temperança e da verdade. O que se nota na Escritura não é um espírito de ilusões fantasiosas nem de um redemoinho a girar para lá e para cá irrefletidamente, movendo-se tanto para o mal como para o bem, mas, sim, um espírito cheio de sabedoria e de inteligência para discernir entre o bem e o mal. Esse espírito não impede o homem a uma licenciosidade dissoluta e desenfreada, mas, como distingue o bem do mal, ensina o homem a seguir aquele e fugir deste”.
Com a Palavra de Deus em mãos, agraciados por ele em poder ler e entender sua mensagem, afastemos de nós todo o individualismo do tempo presente e apliquemos os ensinamentos divinos em nossa vida, e vivamos a bondade, façamos o que é certo, segundo a Bíblia ensina, alcançando, assim, nosso maior propósito de vida, que é glorificar o nome de Deus através do nosso viver.