“Quem és tu que queres julgar, com vista que só alcança um palmo, coisas que estão a mil milhas?” (Dante Alighieri, escritor e poeta italiano, séc. 13 e 14).
Você já deve ter ouvido o provérbio popular “a fome é o melhor tempero”, especialmente se você é um chato pra comer.
Sentir fome pode ser, para alguns, uma experiência desesperadora, de angústia e medo pela vida, como é o caso de milhões que vivem na extrema pobreza, espalhados atualmente por todo nosso planeta. Para outros, entretanto, a fome pode ser apenas um pontual corretivo, um aprendizado, um meio para valorizar o alimento sobre a mesa, algo que eles têm e que nem todos têm, bastando para isso certo esforço e disciplina. Para alguns, então, a fome é a representação de um grande mal que se abate sobre eles, mas para outros, um instrumento momentâneo para seu próprio bem.
Vemos, neste exemplo, como cada pessoa vive sua própria experiência, que precisa ser entendida pelos demais dentro de um particular contexto de vida. É muito importante levar isso em consideração quando desejamos manter vínculos fraternais e de amizades com o próximo, para tanto, tomando todo cuidado para não julgá-lo com leviandade (sem sólidos fundamentos em fatos), despejando sobre eles críticas que não levaram em consideração um substancial conhecimento sobre sua realidade.
Nas Escrituras, temos o relato de que Jesus foi acusado levianamente pelos Judeus (Jo 7.14ss), diante do que lhes exortou:
“Não julguem segundo a aparência, mas julguem pela reta justiça” (Jo 7.24).
Por isso, é muito importante que, diante da real necessidade de se estabelecer um juízo crítico sobre alguém – sobre quem ele é, ou sobre o que ele faz – e há ocasiões em que se requer de nós este julgamento de pessoas, que seja feito com muito temor, pois também disse Jesus:
“— Não julguem, para que vocês não sejam julgados. Pois com o critério com que vocês julgarem vocês serão julgados; e com a medida com que vocês tiverem medido vocês também serão medidos” (Mt 7.1-2).
Com especial cuidado para com a hipocrisia, que é condenar no outro o que também há em si mesmo com muita evidência. Continua dizendo Jesus:
“— Por que você vê o cisco no olho do seu irmão, mas não repara na trave que está no seu próprio? Ou como você dirá a seu irmão: “Deixe que eu tire o cisco do seu olho”, quando você tem uma trave no seu próprio? Hipócrita! Tire primeiro a trave do seu olho e então você verá claramente para tirar o cisco do olho do seu irmão (Mt 7.3-5).
Melhor é empreendermos todo nosso esforço em amar as pessoas, ao invés de se pôr a julgá-las. Contudo, se isso for preciso, revestidos de humildade e sinceridade, busquemos primeiro o auxílio de Deus, rogando-lhe por sua graciosa sabedoria.