“Quanto a vocês, a unção que receberam dele permanece em vocês, e não precisam que alguém os ensine. Mas, como a unção dele os ensina a respeito de todas as coisas, e é verdadeira, e não é falsa, permaneçam nele, como também ela ensinou a vocês.” (1 Jo 2.27).
Palavras de João, apóstolo, um dos doze que acompanhou Jesus em seu ministério terreno.
Nesta parte da sua primeira carta, João exorta os crentes do primeiro século à perseverança no verdadeiro evangelho, pois, segundo ele, a heresia se fazia presente na igreja, dispersada nela por falsos irmãos, falsos mestres.
Sim, João diferencia os verdadeiros crentes dos falsos, dos hereges. Enquanto estes seguem o espírito do anticristo, negando a encarnação de Cristo, os verdadeiros crentes são aqueles que “têm a unção que vem do Santo” (cf. v.20).
O que isto significa?
Unção vem das palavras hebraicas mashach – ungir, e meshiah – ungido. No tempo do Antigo Testamento, a unção era feita derramando óleo sobre sacerdotes, profetas e reis (Ex.: 1 Sm 16.13). Quanto a Jesus, reconhecido como o messias, que corresponde, no grego, a “chrisma”, daí vem Cristo, ele foi também ungido, não com óleo, mas com o Espírito Santo, (Lc 3.21-22; 4.18; At 4.27; 10.38).
Ensina João, o que também está em outras partes das Escrituras, que do mesmo modo os crentes são ungidos, e que a unção dos crentes é o mesmo Espírito Santo com o qual Jesus foi ungido (2 Co 1.21-22; At 1.8). Quais crentes têm esta unção? Todos os que são verdadeiros crentes pois, como disse Paulo, “se alguém não tem o Espírito de Cristo, este tal não é dele” (Rm 8.9).
Baseado nisso, João Calvino disse:
“Pois uma coisa é certa: jamais houve um verdadeiro crente sobre quem não tenha sido feita esta unção espiritual. Dessa verdade decorre que todos os crentes são ungidos de Deus” (Institutas, livro 2).
Heresias continuam aparecendo em nosso tempo, mesmo depois de quase 2000 anos desde João, muitas das quais, como no seu tempo, têm sido geradas dentro do próprio meio evangélico, dissimuladas e atraentes, portanto, muito perigosas, requerendo todo nosso cuidado, exigindo que busquemos sempre a sã doutrina apostólica com zelo e rigor no estudo das Escrituras.
E não esqueçamos da grandiosa graça, que é a unção, que recebemos de Cristo para nos ajudar e para garantir nossa vitória nesta luta. Como Cristo, sobre nós também tem sido derramado, sem faltar a nenhum verdadeiro crente, o óleo precioso que é o Espírito Santo de Deus. E a “unção dele”, como diz João, nos “ensina a respeito de todas as coisas” (Jo 14.26). O que temos que fazer? Permanecer nele. Ou seja, enquanto estivermos sendo guiados pelo Espírito Santo, vivendo na sua plenitude, estaremos seguros em Cristo de que heresias não nos desviarão da verdade ensinada pelas Escrituras. Aí está mais um motivo para vivermos uma vida de compromisso, consagração e devoção a Deus.